segunda-feira, 23 de novembro de 2020

O golpe de mestre de satanás [Dom Marcel Lefebvre]

 


Nós sabemos pelo Gênesis, e melhor ainda pelo próprio Senhor que Satanás é o pai da mentira. No versículo 44, capítulo 8, do evangelho de São João, Nosso Senhor dirige-se aos Judeus dizendo: “o Diabo é vosso pai e vós quereis cumprir seus desejos. Ele foi homicida desde o princípio, e continua fora da Verdade, porque a Verdade não está nele; sua palavra é mentirosa porque por sua natureza ele mente: pois, com efeito, ele é mentiroso e pai da mentira…”

Satanás é homicida nas perseguições sanguinárias, pai da mentira nas heresias, em todas as falsas filosofias e nas palavras equívocas que estão na base das revoluções, das guerras mundiais e das guerras civis.

Ele não cessa de atacar Nosso Senhor em seu Corpo místico: a Igreja. No curso da História, empregou todos os meios, sendo um dos últimos e dos mais terríveis o da apostasia oficial das sociedades civis. O laicismo do Estado foi, e será sempre, um imenso escândalo para as almas dos cidadãos. E foi por esse artifício que ele conseguiu, pouco a pouco, laicizar e fazer perder a fé de numerosos membros da Igreja, a tal ponto que os falsos princípios da separação da Igreja e do Estado, da liberdade das religiões, do ateísmo político, da autoridade que apóia sua origem nos indivíduos acabaram por invadir os seminários, as paróquias, os bispados e mesmo o Concílio Vaticano II.

Para fazer isso Satanás inventou palavras-chaves que permitiram os erros modernos e modernistas penetrarem no Concílio: a falsa liberdade introduziu-se pela Liberdade religiosa ou liberdade das religiões; a “igualdade” pela Colegialidade que introduziu os princípios do igualitarismo democrático na Igreja, enfim, a “fraternidade” pelo Ecumenismo que abraça todas as heresias, todos erros e estende a mão a todos os inimigos da Igreja.

O golpe de mestre de Satanás foi, portanto, o de difundir os princípios revolucionários introduzidos na Igreja pela autoridade da própria Igreja, colocando essa autoridade numa situação de incoerência e contradição permanente. Se esse equívoco não for dissipado, os desastres multiplicar-se-ão na Igreja. A liturgia tornando-se um equívoco, o sacerdócio também se tornará, e o Catecismo o será igualmente. A própria hierarquia da Igreja vive num equívoco permanente entre a autoridade pessoal recebida pelo sacramento da Ordem e pela Missão de Pedro ou dos Bispos e os princípios democráticos.

É preciso reconhecer que essa mudança foi bem manejada e a mentira de Satanás maravilhosamente utilizada. A Igreja se destruirá a si mesma pela via da obediência. Ela se converterá ao mundo herético, pagão, por obediência através de uma liturgia equívoca, de um catecismo ambíguo e cheio de omissões e de instituições novas baseadas sobre os princípios democráticos.

As ordens, as contra-ordens, as circulares, constituições, prescrições serão tão bem manipuladas, tão bem orquestradas, sustentadas pela onipotência dos meios de comunicação social, e pelo que resta da Ação Católica, que todos os bons fiéis, os bons padres repetirão, com o coração quebrantado, mas consentido: é preciso obedecer ! A quem ? Ao quê ? Não se sabe direito: à Santa Sé, ao Concílio, às Comissões, às Conferências episcopais ? Perde-se a cabeça nos livros litúrgicos, nos ordos diocesanos, na indizível confusão dos catecismos, nas “Orações do Tempo Presente”, etc. É preciso obedecer, até tornar-se protestante, marxista, ateu, budista, indiferentista: pouco importa ! É preciso obedecer mediante as renegações dos padres, do absenteísmo dos Bispos – salvo para condenar aqueles que querem guardar a Fé -, mediante o casamento dos consagrados a Deus, da comunhão dos divorciados, da intercomunhão com os heréticos, etc. É preciso obedecer. Os seminários se esvaziam, assim como os noviciados, as casas religiosas, as escolas. Os tesouros da Igreja são pilhados, os padres se secularizam e se profanam em seu traje, em sua linguagem, em sua alma !É preciso obedecer: Roma, as Conferências Episcopais, o Sínodo presbiteral o querem ! Eis o que todos os ecos das Igrejas, dos jornais, das revistas repetem: aggiornamento, abertura ao mundo. Infeliz daquele que não consente. Ele tem o direito de ser injuriado, caluniado, privado de tudo o que lhe permitiria viver. É um herético, cismático: que morra. É tudo o que merece.

Satanás verdadeiramente desferiu um golpe de mestre: ele conseguiu condenar aqueles que guardam a fé católica por aqueles mesmos que a deveriam defender e propagar.

Já é tempo de reencontrar o senso comum da fé, de encontrar a verdadeira obediência à verdadeira Igreja oculta sob a falsa máscara do equívoco e da mentira. A verdadeira Igreja, a verdadeira Sé Apostólica, o Sucessor de Pedro e os Bispos, na medida em que se submetem à Tradição da Igreja, não nos peçam e não podem nos pedir de nos tornar protestantes, marxistas ou comunistas. Poder-se-ia crer, ao ler-se certos documentos, certas constituições, certas circulares, certos catecismos, que se nos solicita a abandonar a verdadeira Fé em nome do Concílio, de Roma, etc.

Nós devemos recusar de nos tornarmos protestantes, de perder a Fé, de apostatar como o fez a sociedade política depois dos erros espalhados por Satanás com a Revolução de 1789. Nós recusamos apostatar, fosse isso em nome do Concílio, de Roma ou das Conferências Episcopais.

Sobretudo nós permanecemos firmemente ligados aos Concílios dogmáticos que definiram para sempre nossa Fé. Todo católico digno desse nome deve recusar o relativismo, o evolucionismo de sua fé, como se aquilo que foi definido solenemente outrora pelos Concílios não seria mais válido atualmente e pudesse ser modificado por outro Concílio, sobretudo se ele é apenas pastoral.

A confusão, a imprecisão, as modificações dos documentos sobre a liturgia, a precipitação na aplicação manifestam, evidentemente, que não se trata de uma reforma inspirada pelo Espírito Santo. Essa maneira de proceder é totalmente contrária aos hábitos romanos que sempre agiram “cum consilio et sapientia”. É impossível que o Espírito Santo tenha inspirado a definição da Missa segundo o artigo VII da Constituição (1) , e ainda mais incrível que se tenha sentido, em seguida, a necessidade de corrigir essa falsa definição, o que é uma confissão de irregularidade na mais importante realidade da Igreja: o Santo Sacrifício da Missa.

A presença dos protestantes na reforma litúrgica da Missa, é preciso dizer, representa um dilema que parece difícil de se escapar. Ou tal presença significaria que eles [os protestantes] foram convidados a reajustar seu culto aos dogmas da Santa Missa, ou que se lhes perguntava o quê na Missa católica os desagradava, a fim de não deixar subsistir uma expressão dogmática que eles não pudessem admitir. É evidente que foi a segunda solução que foi adotada, coisa inconcebível e, certamente, não inspirada pelo Espírito Santo.

Quando se considera que a concepção da Missa Normativa é aquela do Padre Bugnini e que ele a impôs tanto ao Sínodo como à Comissão Litúrgica, pode pensar-se que há Roma e Roma: a Roma eterna em sua Fé, seus dogmas, sua concepção do Sacrifício da Missa e a Roma temporal influenciada pelas idéias do mundo moderno, influência à qual não escapou o próprio Concílio que, por intenção e por graça do Espírito Santo se quis somente pastoral.

Santo Tomás se pergunta, na Questão sobre a correção fraterna, se convém que ela se exerça em relação aos Superiores. Com todas as distinções úteis, o Anjo das Escolas responde que ela deve fazer-se quando se trata da Fé.

Ora quem pode com toda consciência dizer que hoje a Fé dos fiéis e de toda Igreja não está gravemente ameaçada na Liturgia, no ensino do catecismo e nas instituições da Igreja ?

Que se leia e releia São Francisco de Sales, São Roberto Belarmino, São Pedro Canísio e Bossuet, e se encontrará com perplexidade que eles tiveram que lutar contra os mesmos erros. Mas dessa vez o drama extraordinário é que as desfigurações da Tradição nos vêm de Roma e das Conferências Episcopais. Portanto, quem quiser guardar a Fé, deve admitir que algo de anormal se passa na administração romana. Nós devemos certamente sustentar a infalibilidade da Igreja e do Sucessor de Pedro, mas nós devemos também admitir a situação trágica na qual se encontra nossa Fé católica pelas orientações e documentos que nos vêm da Igreja. Portanto, a conclusão retorna àquilo que dissemos no início: Satanás reina pelo equívoco e pela incoerência, que são os seus meios de combate e que enganam os homens de pouca Fé.

Esse equívoco deve ser combatido corajosamente a fim de preparar o dia em que a Providência escolher para a condená-lo oficialmente pelo sucessor de Pedro.

Que não nos chamem de rebeldes ou de orgulhosos, posto que não somos nós que julgamos, mas é o próprio Papa que, como Sucessor de Pedro, condena o que ele mesmo encoraja em outras ocasiões, é a Roma eterna que condena a Roma temporal. Nós preferimos obedecer à eterna.

Nós pensamos com toda consciência que toda legislação posta em prática depois do Concílio é ao menos duvidosa e por conseguinte nós apelamos para o Cânon 23 que trata desse caso e nos determina de nos manter na lei antiga.

Eis as palavras que, para alguns, parecerão ultrajosas à autoridade. Elas são, ao contrário, as únicas que protegem a autoridade e que a reconhecem verdadeiramente, pois a autoridade só pode existir para a Verdade e o Bem, e não para o erro e o vício.

No dia 13 de outubro, aniversário das aparições em Fátima – 1974.

Que Maria se digne abençoar essas linhas e as faça trazer frutos de Verdade e Santidade.

 

+Marcel Lefebvre

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(1) Primeira redação da Constituição Apostólica Missale Romanum, de S.S. Paulo VI, que promulga o Novo Ordo da Missa, na qual a missa é definida à maneira protestante.

domingo, 22 de novembro de 2020

sábado, 14 de novembro de 2020

Uma amizade fecunda: Gustavo Corção e Raquel de Queiroz [João do Sul]

 João do Sul


No escoar de sua profícua vida Gustavo Corção granjeou inúmeras amizades, algumas delas se desvaneceram é verdade [pense-se em Alceu e Sobral Pinto – que foram para o outro lado], no entanto, algumas perduraram e foram muito fecundas, muito familiares.

No seleto time de bons amigos destacam-se, entre outros, Fábio Alves Ribeiro, o culto Alfredo Lage, o bom monge D. Marcos Barbosa e a doce romancista Raquel de Queiroz. 

Sobre a amizade o próprio Corção escreveu linhas de raríssima sensibilidade:

 

Todo amigo é amigo de infância. Não importa se você o conheceu no mês passado ou se soltou papagaio com ele na Rua do Matoso. Se a amizade é verdadeira, ela tem esta força que vence as distâncias e os anos, e tem necessidade de uma profunda comunhão de vida. O amigo não quer o amigo apenas no momento que passa, não se contenta com encontros e trocas fortuitas; o amigo quer o amigo em todas as suas dimensões, quer conhecer suas raízes e apreciar seus frutos. O amigo quer o amigo como companheiro de caminhar neste mundo. E por isso, a primeira ideia que nos acode quando pensamos na perfeição da amizade é a da fidelidade.

 

Alfredo Lage e Fábio Alves Ribeiro acompanharam Corção no tempo do Centro Dom Vital. Os três eram entusiastas do autor de “Humanismo Integral”, o filósofo francês Jaques Maritain. Tempos depois, quase beirando a década de setenta um estranho sentimento de terem sido ludibriados os tomou de assalto. É provável que Fábio tenha sido o primeiro a se dar conta do engodo, e os motivos para tal suspeita deixo para outra oportunidade.

O Lage, como era conhecido, em 1971 escreveu um livro de grande magnitude denunciando uma série de embustes então em voga, inclusive o maritanismo. O livro chama-se “A recusa de ser: falência do pensamento liberal” e já na introdução o autor afirma que o pensamento liberal “tem por conteúdo um falso ideal religioso inculcado mediante a repetição obsessiva de certos temas, ou antes, mitos do nosso tempo: o Progresso necessário, a Bondade originária, o Sentido da história, a Democracia igualitária, a Vontade Geral, etc., cuja análise revela um denominador comum: a recusa de fato das condições objetivas do desenvolvimento humano”. O liberalismo – acrescenta - é a “afirmação utópica do humanismo”. Trata ainda - com muita propriedade - da “traição dos clérigos”, do “burocratismo da CNBB”, da “permissividade dos novos padres” e da “Igreja em estado de calamidade”.

Em 1973 Corção lança “O Século do Nada”, que em vários pontos se assemelha ao livro do Lage, principalmente no que toca ao maritanismo e ao processo de defecção da fé agudizado após o Concílio Vaticano II.

Para o desprazer do pobre leitor – se é que ele existe – tenho que dizer que tudo o que foi escrito até aqui é de pouca importância. A menção ao livro “O Século do Nada” serviu na verdade para falar de Rachel de Queiroz. O leitor intrigado já não entende mais nada e sente-se tentado a parar por aqui. Pensa ele: que relação poderia existir entre “O Século do Nada” e Raquel de Queiroz, afinal essa senhora, se bem que grande escritora, sequer professava a fé católica. E nisso assiste razão ao distinto e atento leitor: que o bom Deus se amerceie da pobre alma da terna Raquel, quem, inclusive, confessou em uma entrevista que a maior tristeza de sua vida foi justamente a ausência de fé.

A lhaneza costumeira com que Raquel se referia a Corção bem revela a cândida amizade que ostentavam. Em 1973, por exemplo, quando Corção – pela obra “O Século do Nada” - foi agraciado (na categoria “Ensaio”) com o Prêmio de Literatura para Conjunto de Obra, no VIII Encontro Nacional de Escritores, em artigo estampado na revista O Cruzeiro assim se manifestou em relação à premiação e ao escritor premiado:

 

por fim mas não por último! – veio coroar o livro mais importante do ano, “O Século do Nada”, do filósofo, pensador, romancista, herói, guerreiro e santo – o nunca assaz louvado e querido Gustavo Corção.

 

E na sequência cita o próprio Corção:

 

E vale lembrar aqui o comentário feito pelo maior premiado [Corção], no seu depoimento: “As esquerdas internacionais bradam aos céus contra o ‘terror cultural’ reinante no Brasil. Mas é no Brasil que se prestam essas homenagens e aos escritores; enquanto na pátria de todas as esquerdas, a URSS, o lugar do escritor é no campo de concentração e no hospício de doidos...”

 

O leitor bem sabe que em “O Século do Nada” Corção faz uma aguda análise sobre o que considera o fenômeno mais grave dos últimos vinte séculos: “a infiltração das esquerdas no mundo católico” e o surgimento da “nova Igreja” ou “A Outra”, como ele a denominou.

Chamada pelo jornal Diário de Notícias a dar uma declaração sobre a mencionada obra, Raquel comparou Corção a Dom Quixote:

 

É um novo Cavaleiro da Mancha. Corção é um justo – no sentido evangélico da expressão – em que a paixão do bem e da verdade é servida por uma altíssima inteligência e pôs essa alma e inteligência a serviço da fé, reconquistada ‘com desapoderado amor, com dedicação total, com o interesse exclusivo do seu coração exigente’.

Quando veio a hora da guerra ele se armou cavaleiro e saiu combatendo. E talvez alguém pense, vendo-o lutar quase só contra moinhos de ventos tão grandes e de tão longos braços, que ele tem muito de Quixote. Talvez – Quixote na generosidade de doar-se, na paixão de servir à causa dos seus anjos, na indiferença às ameaças da força. Mas com uma diferença essencial: o cavaleiro Corção é um dos mais lúcidos santo combatente que Deus já enviou em missão a este mundo.

 

Quanta verdade há nas palavras de Raquel de Queiroz. Assim como o admirável Arcebispo Marcel Lefébvre, a quem tanto admirava, Corção envidou todos os esforços para defender a fé contra todos os que a queriam conspurcar.

Para finalizar, é também da autora de “O Quinze” o seguinte excerto estampado em uma nova edição do livro “Conversa em sol menor”

 

A maioria dos brasileiros conhece duas faces de Gustavo Corção.

Uma, a do escritor exímio, a usar como ninguém a língua portuguesa, o autor que, vivo ainda, graças a Deus, é um indiscutível clássico da literatura nacional.

A segunda face é a do anjo combatente, de gládio na mão, a castigar os impostores que vivem a gritar o nome de Deus e da sua Igreja, não para os louvar, antes para os apregoar na feita inocente-útil do 'progressismo'.

Mas há uma terceira face de Gustavo Corção, e essa só a conhecem aqueles que receberam a graça do seu convívio e da sua afeição: é a ternura do amigo, a extrema solicitude na amizade, aquela caridade do coração que é a coroa de todos os afetos.

 

Não sei se o leitor observou, mas nada falei do monge poeta D. Marcos Barbosa. Fica para a próxima.

 

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quinta-feira, 12 de novembro de 2020

A negação do pecado original... [Juan Donoso Cortés]

 

“A negação do pecado original é um dos dogmas fundamentais da Revolução. Supor que o homem não tenha caído no pecado original significa negar, e nega-se efetivamente, que o homem tenha sido redimido. Supor que o homem não foi redimido significa negar, e nega-se efetivamente, o mistério da Redenção e da Encarnação, o dogma da personalidade exterior do Verbo e o próprio Verbo. Supor a integridade natural da vontade humana, de um lado, e não reconhecer, de outro, a existência de outro mal e de outro pecado além do pecado filosófico, significa negar, e nega-se efetivamente, a ação santificante de Deus sobre o homem e, com ela, o dogma da personalidade do Espírito Santo. De todas estas negações deriva a negação do dogma soberano da Santíssima Trindade, pedra angular da nossa fé e fundamento de todos os dogmas católicos”.

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Juan DONOSO CORTÉS. Lettera al cadinal Fornari, 19 de junho de 1852. Saggio sul cattolicesimo, il liberalismo e il socialismo, trad. It., Milão, 1972, p. 51.



De geração em geração [Pe. Palma -- 1942]

 

cruzada eucarística em Turim [ITA]

Há dois mil anos existe a Igreja Católica, dando ao mundo santos e sábios. Converteu os bárbaros, implantou a civilização, procurou melhorar os homens de cada século pela educação e instrução. E é alvejada pelos maus. Ensina-a virtude até o heroísmo; a obediência devida aos superiores "etiam discolis"; a caridade no desprendimento das cousas materiais em favor dos pobres; a pureza, sobretudo, desconhecida e afrontada pelo mundo, até a castidade a mais perfeita insultada pelos homens de todos os tempos. Quer a Igreja o perdão das ofensas, o amor aos inimigos, fazendo o bem a todos os que nos fazem o mal, rezando por quem nos persegue. Zela e guia para os bons costumes pais e filhos, ricos e pobres, grandes e pequenos, nobres e plebeus. Todos os homens irmanados debaixo da Cruz de Cristo. E a Igreja continua sendo alvejada pelos inimigos do eterno bem!

Se há diferentes condições de vida, não há diferença de classes; todos irmãos pela criação, pela redenção e todos herdeiros da mesma gloria que Deus concederá aos seus servidores na terra do exílio. Com justiça e fortaleza se colhem os melhores frutos de santidade na estrada real da vida terrena; com temperança e prudência se vencem os obstáculos para a vida exemplar. Se há fé no coração humano também haverá as boas obras santificantes, que são filhas diletas da fé ensinada pela Igreja de Cristo; essa caridade das obras se traduz numa esperança viva de um mundo melhor. Nossa esperança tem um limite no tempo, como a fé deixa de existir com a luz da vida, mas tudo se funde na caridade que começa no tempo para continuar na eternidade, no seio de Deus, sem jamais ter fim. O amor ao próximo pelo amor de Deus.

Contra essa Igreja secular se voltam os homens incrédulos de cada século, procurando desfazer as promessas de Cristo. Cousa incrível. Crê o muçulmano na palavra de Maomé; crê o filósofo na palavra de Platão; crê o protestante na palavra ide Lutero; crê o espírita na palavra de Kardec; crê o historiador na palavra dos cronistas; crê o sábio nas hipóteses da ciência experimental de nossos dias... como creem, assim vivem... E todos esses incrédulos deixam de crer em Nosso Senhor Jesus Cristo, morto no Calvário, a dois mil anos, o qual fundou a Igreja Católica, Apostólica, Romana.

Como vive a Igreja e como vivem os inimigos, hoje e ontem?

Vede o judeu. Cometeu o deicídio e vive errante pelo mundo em fora, corrido da própria sombra; fazendo o maior mal possível; faria a cada cristão o que fizera ao Nazareno no Calvário.

Vede a sociedade secreta. As sociedades secretas solapam e destroem toda a influência benéfica da Igreja no indivíduo, na família, na sociedade, nos governos, contrastando todas as leis cristãs. De mãos dadas aos anarquistas judaisantes as sociedades secretas de todos os Rotarys Clubs, conhecidos e desconhecidos hostilizam a Igreja, abafando os sentimentos humanos.

Vede o protestante. Com suas mil seitas e cisões os protestantes açulam contra os católicos um ódio muçulmano ao cristianismo, desfazendo as doutrinas dos apóstolos a nossos dias.

Vede os espiritismos. Como os protestantes e muçulmanos, os espiritas de Kardec negam todas as verdades doutrinadas da Igreja de Cristo, desfazendo as verdades reveladas do catolicismo.

Vede a classe dos sábios. Os sábios arrogantes e enfatuados lançam um aceno tolo e desdenhoso a todo o ensino religioso-católico e desprezam o cristianismo de nossos dias.

São materialistas e descrentes nas teorias regeneradoras da religião. E todos os ímpios com a maior impiedade não conseguem empanar a santidade da Igreja e nem abalar as verdades reveladas e mantidas pela Igreja de Jesus, que triunfante perpassando as gerações chegou gloriosa ao século vinte, dando ao mundo mártires devotados, santos esclarecidos e sábios verdadeiros. E a Igreja continua sendo mestra de cada geração no caminho do bem.

Qual o resultado colhido pelos figadais inimigos da Igreja? Visível é a derrocada dos maus em cada século; vão acabar no ateísmo feroz. Quais os frutos colhidos pela Igreja tão perseguida? Ela possui uma força imanente mantida por um fator divino, que contrasta e repele toda a maldade secular dos maus. Os inimigos (combatendo ferozmente) conferem-lhe uma gloria imarcescível. Pior seria se a Igreja fosse bafejada e protegida pelos maus!!

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Pe. Palma – Jornal O Lar Católico [1942]

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Oração dos esposos e pais [Santo Afonso Maria de Ligório]

 


Meu Salvador Jesus, que nos unistes duma maneira indissolúvel por um grande sacramento, conservai entre nós o espírito de união e concórdia para nos amarmos mutuamente como vós amais a Igreja; dai-nos o espírito de paciência e doçura, para suportarmos pacificamente os nossos defeitos; armai-nos com o espírito de prudência e santidade, para que fiquemos sempre nos limites dos nossos deveres, e nada pratiquemos que ofenda os vossos olhos, nada que se oponha ao profundo respeito devido ao vosso sacramento.

Enviai-nos o espírito de sábia solicitude e previdência, para acudirmos, segundo as regras da justiça e caridade, às necessidades da nossa família.

Preservai-nos do espírito do mundo e do amor das suas vaidades, a fim de que só procuremos agradar a vós, nosso Deus, nosso amor, verdadeiro laço dos nossos corações.

Inspirai-nos o verdadeiro espírito de fé, que torne a nossa habitação escola de piedade e santuário de todas as virtudes.

Longe de nós, ó meu Deus, a desgraça de sermos, pela nossa tolerância ou vida pouco edificante, causa de ruína para os nossos filhos. Longe da nossa casa, longe, bem longe dela, tudo o que seria pedra de escândalo, ocasião de pecado.

Ó Maria, ao vosso maternal coração recomendo os meus pobres filhos: sede mãe deles, formai os seus corações na virtude. Terna Mãe, sejam eles piedosos, caritativos, sempre cristãos; sua vida, cheia de boas obras, seja coroada por uma santa morte.

Oxalá nos possamos, ó Maria, achar todos juntos no céu, para contemplarmos a vossa glória, celebrarmos os vossos benefícios e amor e vos bendizermos eternamente com o vosso caro Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém!

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As mais belas orações de Santo Afonso. Petrópolis: Vozes, 1961, pp. 577-578.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Relação entre a Igreja e o Estado [Dom Antônio de Castro Mayer]

 

D. Antônio de Castro Mayer [1904-1991]

De maneira que a estrutura natural do governo da sociedade humana, na ordem histórica — isto é, em face da Revelação e constituição da Santa Igreja para presidir aos assuntos espirituais —, pede uma colaboração mútua entre as duas potestades supremas, a Igreja e o Estado. A Igreja reconhecerá o poder civil e levará os fiéis ao sincero acatamento da autoridade do Estado, à qual dará colaboração leal, em tudo quanto redunde em benefício da sociedade e não se oponha à lei de Deus. De seu lado, o Estado reconhecerá a única Igreja a que confiou Deus o cuidado das coisas espirituais: o culto divino e a salvação das almas. E, como a vida do homem na terra deve orientar-se para a salvação eterna, deve o Estado não somente não se opor à ação específica da Igreja, mas também auxiliá-la, positivamente, criando na sociedade um ambiente que favoreça a prática da virtude, a piedade, a Fé, e dificulte o pecado, a impiedade, e em geral, a proliferação do vício.

Leão XIII enuncia, com precisão, este pensamento: 

"Todos nós, enquanto existimos, somos nascidos e educados em vista de um bem supremo e final, ao qual é preciso referir tudo, colocado que está nos céus, além desta frágil e curta existência. Já que disso é que depende a completa e perfeita felicidade dos homens, é do interesse supremo de cada um alcançar esse fim. Como, pois, a sociedade civil foi estabelecida para a utilidade de todos, deve, favorecendo a prosperidade pública, prover ao bem dos cidadãos de modo não somente a não opor qualquer obstáculo, mas a assegurar todas as facilidades possíveis à procura e à aquisição desse bem supremo e imutável ao qual eles próprios aspiram. A primeira de todas consiste em fazer respeitar a santa a inviolável observância da Religião, cujos deveres unem o homem a Deus. Quanto a decidir qual religião é a verdadeira, isso não é difícil a quem quiser julgar sobre esta matéria com prudência e sinceridade. Efetivamente, provas numerosíssimas e evidentes, a verdade das profecias, a multidão dos milagres, a prodigiosa celeridade da propagação da fé, mesmo entre os seus inimigos e a despeito dos maiores obstáculos, o testemunho dos mártires e outros argumentos semelhantes, provam claramente que a única religião verdadeira é a que o próprio Jesus Cristo instituiu e deu à sua Igreja a missão de guardar e propagar (Enc. Immortale Dei, de 1.º de novembro de 1885).

Já vedes, amados filhos, que tão somente num Estado constituído de acordo com esta doutrina se pode efetivar plenamente a Realeza de Jesus Cristo. Explica-se, pois, tenha ela sido inculcada constantemente pelo Magistério Eclesiástico.

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Dom Antônio de Castro Mayer. Extrato da Carta Pastoral sobre A REALEZA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, datada de 8 de dezembro de 1976.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

- A Crise na Igreja - Conferências ministradas pelo Rev. Pe. Joaquim FBMV

 

- A Crise na Igreja (1/12)

Conferência ministrada pelo Rev. Pe. Joaquim FBMV


- A Crise na Igreja (2/12)

Conferência ministrada pelo Rev. Pe. Joaquim FBMV


 
- A Crise na Igreja (3/12)

Conferência ministrada pelo Rev. Pe. Joaquim FBMV


 
- A Crise na Igreja (4/12)

Conferência ministrada pelo Rev. Pe. Joaquim FBMV


 
- A Crise na Igreja (5/12)

Conferência ministrada pelo Rev. Pe. Joaquim FBMV


 
- A Crise na Igreja (6/12)

Conferência ministrada pelo Rev. Pe. Joaquim FBMV


 
- A Crise na Igreja (7/12)

Conferência ministrada pelo Rev. Pe. Joaquim FBMV


 
- A Crise na Igreja (8/12)

Conferência ministrada pelo Rev. Pe. Joaquim FBMV


 
- A Crise na Igreja (9/12)

Conferência ministrada pelo Rev. Pe. Joaquim FBMV


 
A Crise na Igreja (10/12)

Conferência ministrada pelo Rev. Pe. Joaquim FBMV


 
- A Crise na Igreja (11/12)

Conferência ministrada pelo Rev. Pe. Joaquim FBMV


 
- A Crise na Igreja (12/12)

Conferência ministrada pelo Rev. Pe. Joaquim FBMV 


segunda-feira, 2 de novembro de 2020

A paz sem Deus é um absurdo [Pe. Julio Meinvielle]

 


[…] não há nada de estável na política do mundo moderno, não há, portanto, Verdade. E negar a existência de uma verdade imutável é o mesmo que negar a existência de uma ordem, já que a verdade é o pensamento de acordo com o real, o real natural e sobrenatural, natureza e graça, quer dizer, aquela ordem que a Cristandade conheceu, a ordem estabelecida pelo suave jugo de Cristo.

Nestas condições não se pode estabelecer uma ordem durável; se condena à desordem de uma instabilidade permanente, que é o estado natural da revolução. As guerras e os conflitos mais e mais próximos e sangrentos são inevitáveis à medida que se quer o devir, a mudança pura e simples, e não o Ser.

O desejo de paz está seguramente no coração de cada um, mas supor a paz sem Deus é um absurdo, porque sem Ele, a justiça se afasta e toda esperança de paz se converte em quimera.

Justamente o mundo contemporâneo proclama a paz em nome dos sonhos pacifistas de um sincretismo religioso e filosófico, sob pretexto de manifestar o que une e não fazer alusão ao que separa ou distingue.

Começa assim o maior pecado que há contra Deus, que veio sobre a terra para separar o bem do mal, o erro e a mentira da verdade; e hoje, ao contrário, se mescla o bem e o mal, a verdade e o erro, os sexos, tudo se mescla. Já que as guerras são consequências dos pecados dos homens, o pecado do espírito não pode senão afastar a paz e trazer sobre as nações os piores castigos.

Não é por acaso que no começo do século XX, em 1917, a própria Mãe de Deus veio nos advertir, em Fátima, que se não houvesse mudança de vida, se não se escutasse suas suplicas, haveria guerras e perseguições que causariam o aniquilamento de grandes nações.

A paz do mundo, como nas famílias e nos indivíduos, será sempre proporcional à submissão à ordem, será sempre proporcional ao grau de união com Deus; desprezado o suave jugo de Nosso Senhor Jesus Cristo, a realeza de Cristo, quer dizer, repudiando até mesmo a noção de Cristandade, nosso mundo entrou em revolta, em rebelião, em revolução; caiu sob o poder do príncipe deste mundo, Satanás, que como dizia Cristo, é homicida desde o começo.

Aqui se nota a especial relevância que tem a noção de Cristandade para todo ordenamento político, tanto nacional como internacional, noção que envolve a submissão das nações e do mundo ao suave jugo de Jesus Cristo.

Por isso, a festividade de Cristo Rei proclama a necessidade de que o mundo se submeta a Jesus Cristo não apenas como verdade religiosa, mas como verdade política; proclama a necessidade absoluta para o homem – criatura e pecador – de encontrar seu vigor temporal em Jesus Cristo, o Unigênito do Pai que tomou nossa humanidade no seio da Virgem Mãe. Sem Jesus Cristo o indivíduo, as nações e o mundo marcham aceleradamente para a catástrofe.

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Pe. Julio Menvielle [1905-1973]. Claves Para Entender El Error Progresista.