A devoção ao Sagrado
Coração de Jesus, Deus e Homem verdadeiro, Mediador entre Deus os homens, por
Ele próprio revelada ao mundo, e pela sua Igreja aprovada, promovida e
recomendada com muitos extraordinários privilégios e indulgências, tem sido reconhecida
pelos Pastores e pelo Supremo Pastor do Catolicismo como a devoção própria do
nosso século.
(...)
A Igreja e a Sociedade, disse Pio IX, não tem
a esperar senão no Coração de Jesus. Espalhai por toda a parte esta
devoção, será ela a salvação do mundo. A cristandade por toda a terra a
considera como a devoção católica por excelência.
(...)
Na manifestação de
seu próprio Coração, Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, revelou a fonte, o
órgão, e ao mesmo tempo o símbolo do Seu amor por nós; não daquele amor que tem
como o Padre e o Espírito Santo e com que exultou os mistérios da Encarnação e
da Redenção do mundo; mas daquele outro amor em que o seu Coração de Deus Homem
arde e se abrasa para com todos os homens.
O que muitos séculos
antes havia Jesus Cristo anunciado à sua fiel Santa Gertrudes realizou, há mais
de duzentos anos, nas aparições à bem-aventurada Margarida Alacoque, a quem fez
ver o Seu Amabilíssimo Coração inflamado de amor pelos homens e revelou o desejo de que fosse esse Coração
honrado com um culto particular como o órgão, princípio imediato e símbolo
daquele amor, na forma em que Ele mesmo lh’o apresentava.
Queria o terníssimo
Salvador sob essas formas comoventes e atrativas se fazer mais vivamente
presente a nós, e tocar o nosso coração para Lhe retribuirmos amor com amor:
pois é certo que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, Verbo Encarnado, não é senão
uma prática de amor para com o nosso Amabilíssimo Senhor Jesus Cristo, como
ensina o Santo Doutor da Igreja, Afonso de Ligório.
(...)
Entremos nós também,
Irmãos e Filhos muito amados, por aquela porta viva (S. Ambr. De Elia et
jejunio, c. 4) aberta no Sagrado Costado do Salvador pendente da Cruz e, “uma vez abrigados no Amorosíssimo Coração
de Jesus é bom que permaneçamos ali , nem consintamos força alguma nos separar
dele” – Quia semel venimus ad Cor
dulcissimum Jesu et bonum est nos hic esse, ne sinamus nos facile avelli abe o
-, do qual está escrito: aqueles que se separam de ti serão escritos na
terra (desaparecerão como a terra) (S. Bernardo Serm., 3 de Passion)
Reparai como o mundo
atual procura por toda a parte sacudir o jugo suave de realeza de Jesus Cristo,
e com as suas más obras, os seus clubs, os seus congressos, os seus teatros, a
sua imprensa, as suas fotografias, pornografias e pinturas, o seu luxo, as suas
modas e o seu viver voluptuoso vai apregoando o mote da pérfida rebelião
judaica – nolumus hunc regnare super nos (Evang. S. Luc. Cap. XIX, v. 14) – não
queremos que Jesus Cristo reine sobre nós!
E crescendo dia a dia
a sua soberba inimiga de Jesus – supervia
eorum qui te oderunt ascendit, semper, (Psal, 73, v. 23) a impiedade sectária vai demolindo
a família com a mancebia legal, conculcando a autoridade paterna, obrigando-a a
abdicar do seu direito inalienável de educar a prole, privando-a da faculdade
de distribuir o seu patrimônio, açulando a volúpia com o divórcio, pretenso
separador do que Deus uniu. Desorganiza a escola, quebrando os laços que uniam
os discípulos aos mestres pelo princípio de autoridade e pelo afeto do coração;
desorganiza as oficinas acirrando o ódio dos operários contra os seus patrões,
inutilizando assim a patronagem e a associação e degradando os trabalhadores a
uma espécie de mercadorias sujeitas aos rigores de uma lei cruel e às
oscilações do mercado; e degrada ainda mais as classes laboriosas abolindo os dias
do Senhor para, entregando-as à cobiça de especuladores, desprezarem as suas
necessidades morais e espirituais, e sujeitarem-nas ao trabalho como as bestas
irracionais.
Em uma palavra, impondo a
indiferença doutrinal e a mais completa separação da ordem natural, essa
impiedade tem plantado o reino do pecado, que faz os povos miseráveis –
miseros autem facit populos peccatum
(proverb. XIV, 34). Todo o seu empenho é suprimir Deus e os seus direitos, e para tanta
insensatez não trepida diante dos meios ao seu alcance para arrancar do coração
do povo a sua fé e as suas esperanças imortais, trocando-as por ilusórias e
fúteis promessas dum bem-estar e satisfações terrestres, como se o coração do
homem dotado de uma aspiração à felicidade sem termo e sem interpelação pudesse
satisfazer-se com o pó de que foi tirado.
Toda
essa luta, esses esforços todos dos ímpios coligados com o inferno, todos os
males que deles se seguirem e seguirão, não escaparam às vistas de Jesus: antes
formaram uma parte integrante do plano que veio realizar neste mundo.
Portanto não podia
ser indiferente a esta realização: quis por isso não só preservar os seus filhos de tão grandes
perigos, mas também fortalecê-los e fazê-los quais instrumentos ativos do
estabelecimento e propagação do seu reino.
Mais ainda: a intenção de Jesus estendia-se aos seus
próprios inimigos, que apesar de suas infidelidades e perfídias não deixam de
ser seus filhos. Por eles do alto da Cruz havia rogado ao seu Pai – Pater, dimitte illis (S. Math., XI); e
podendo esmaga-los debaixo de sua inexorável justiça, não quis triunfar pela
força, mas preferiu com misericordioso amor atraí-los a si, alumiá-los e
torna-los instrumentos de seu mesmo amor.
E para alcançar tão
grande conquista manifestou as riquezas do seu amor, abriu o seu Coração afim
que o homem pudesse achar n’Ele remédio para todos os seus males, e forças para
resistir a tantas lutas. “Vinde a mim,
dizia ele desde sua vida mortal, vinde todos a mim, Venit ad me omnes” (S.
Lucas XXIII, 34).
E há dois séculos
repete a todos: “Eis aquele Coração que
tento tem amado aos homens, vinde a mim todos: o meu Coração está aberto para
vos alumiar, fortalecer e consolar”.
“Cheguemo-nos,
pois, para Ele e exultemos nele, porque acharemos o caminho, a verdade e a
vida, elementos que constituem a verdadeira felicidade. Oh! Quanto é bom e
suave habitar nesse Coração! Demos tudo que é do mundo, troquemos os
pensamentos e os afetos de nossa alma e todo o nosso cuidado entreguemos ao
Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo para que só Ele reine em nossas almas” (S. Bernardo, Serm,
3 da Passion)
***
Excerto
da CARTA PASTORAL do Exm. e Rvm. Sr. Bispo de Niterói, Dom Francisco do Rego
Maia, “sobre o Apostolado da Oração e o Mensageiro do Coração de Jesus”,
5 de
julho de 1896. Festa do Preciosíssimo Sangue de N. S. Jesus Cristo.
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