domingo, 27 de setembro de 2020

A entronização do Sagrado Coração de Jesus nos lares [Frei Bemvindo Destéfani O.F.M - 1934]

 

Em 1639, desposavam-se Cláudio Alacoque e Felisberta Lamyn, ambos da alta nobreza da França. Deste consorcio nasceram vários filhos, entre os quais Margarida Maria que, mais tarde, se tornaria celebre tanto pelas suas virtudes pessoais como pelas obras portentosas a que deu grande impulso, mormente, pela sua extraordinária devoção ao Sacratíssimo Coração de Jesus.

Esmeradamente educada no castelo da família, Margarida Maria, aos 18 anos de idade, passou pelo duro golpe de perder o extremoso progenitor. Felisberta Lamyn enviuvou, ficando a seu cargo a administração dos vastos bens que Cláudio Alacoque lhe deixara em testamento.

Atarefadíssima com os negócios da família, Felisberta Lamyn entregou sua filha Margarida Maria aos cuidados de ilustradas religiosas que, naquela cidade, dirigiam conceituado estabelecimento de ensino e de educação. Primorosamente preparada tanto pela progenitora antes de sua viuvez, como peIas religiosas, aos nove anos de idade, Margarida Maria pode abeirar-se, pela vez primeira, à Mesa da Comunhão. No recinto colegial, Margarida Maria adoeceu gravemente, vendo-se constrangida a voltar junto à mãe, fazendo, ao mesmo tempo, a promessa de abraçar a vida religiosa, caso recuperasse a saúde. Devido aos cuidados maternos, ficou plenamente restabelecida da moléstia. Em vez de dar tratos de cumprir sua promessa viveu largo tempo esquecida dela, até que Deus lhe enviou outra enfermidade que a levou aos vestíbulos da campa.

Na tribulação, recordou-se novamente da sua promessa de consagrar-se, no claustro, inteiramente a Deus. E de fato, a graça, agora, leva de vencida a natureza. Desprezando várias ofertas de núpcias, ingressou no convento da Visitação em 19 de junho de 1671.

Este gesto altivo, Deus recompensou-o mui galhardamente. De uma devoção acrisolada ao Santíssimo Sacramento, Jesus dignou-se aparecer diversas vezes à Margarida Maria. Em aparições reiteradas, o Divino Mestre solicitou de sua serva que se empenhasse na celebração da primeira sexta-feira de cada mês com a respectiva Comunhão reparadora, e, na instituição de uma festa ao Divino Coração, na primeira sexta-feira depois da oitava de Corpus Christi.

Noutra aparição, o Divino Redentor fez-lhe doze promessas em favor dos devotos do Sagrado Coração. A segunda e a nona destas doze promessas são do teor seguinte:

- Darei paz às famílias e abençoarei as casas onde estiver exposta e for venerada a Sagrada Imagem do meu Coração amantíssimo.

Destas duas promessas originou-se o costume de entronizar a imagem do Sagrado Coração de Jesus nos lares, piedosa devoção essa destinada, pelo culto do Divino Coração, a atrair sobre as famílias cristãs a paz e a benção do amantíssimo Senhor.

De origem, aliás, antiga, este piedoso costume de consagrar as famílias aos desvelos do Divino Coração teve enorme impulso pelo sacerdote Matheus Crawley Boevey. Vivendo este padre na República do Chile e, sofrendo de moléstia que julgava incurável, peregrinou ao Santuário de Paray-le-Monial, em França, onde se veneram os restos mortais de Santa Margarida Maria Alacoque e ali obteve cura milagrosa da pertinaz enfermidade. Em reconhecimento, prometeu interessar-se com todas as veras, pela entronização nos lares cristãos, da sagrada imagem do Coração de Jesus. O Papa Pio X, a quem expôs seus projetos, animou-o vivamente, aprovando sua obra e concedendo à mesma várias indulgencias. Foi tão rápida a difusão do piedoso exercício de consagrar as famílias ao Divino Coração, que devido principalmente aos esforços do incansável Padre Matheus Crawley Boevey, trampos, a breve trecho, as fronteiras do Chile, estendeu-se sobre toda a América, passando, em breve, para os outros continentes do globo. Em 1915, orçava em três milhões (3.000.000) o número dos lares consagrados ao Divino Coração. O espirito desta obra é duplo.

É DE AMOR. Quer Jesus que tenhamos fé no seu coração e nas suas promessas. Seu amor para conosco reclama amor para com Ele. Amor com amor se paga!

É DE REPARAÇÃO. Pela entronização de Jesus num lar cristão devem ser reparados, quanto possível, os atentados do mundo corrompido contra a santidade da família e contra a soberania do Redentor que deve ser Rei de todos os corações.

***

- Darei paz ás famílias e abençoarei as casas onde estiver exposta e for venerada a minha sagrada imagem.

Em vista destas tão valiosas promessas, quem não se interessaria pela entronização do Sagrado Coração de Jesus nos lares?...

Amigos, mãos à obra, mormente neste mês de junho, consagrado de um modo todo peculiar ao Coração Divino! Amigos, todos a posto, pela santificação da família e pela difusão do reinado de Cristo! Todos, mãos à obra!...

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Frei Bemvindo Destéfani, O.F.M [publicado no Jornal O lar católico, edição de 3 de junho de 1934].

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