Encetamos hoje a
publicação de uma das obras populares do ilustre escritor MONSENHOR GAUME (1802 – 1879); tem
por título “Pequeno Catecismo do
Syllabus”. Esta pequena obra foi escrita para a instrução do povo, que
ignorando os ensinos da Igreja acerca das verdades católicas, se deixa imbuir
dos falsos preconceitos e sofisma dos ímpios.
Hoje o Syllabus é
como um espantalho, de que se servem os inimigos da Igreja para afastar os
homens da senda do bem, enganar os incautos e precipitá-los nos abismos. A publicação
que faremos da obra de Monsenhor Gaume satisfaz a uma das grandes necessidades
do nosso tempo: é mais uma eloquente resposta a essa parva impiedade que
campeia por todos os lados.
Sempre se atacou o Syllabus;
ainda hoje se diz e se propala com inimitável cinismo que esta obra de alta
prudência e profundamente teológica, não passa de um grito de guerra da Cúria
Romana contra o direito das nações, contra a autonomia dos impérios, contra as
legitimas instituições dos povos. Diz-se ainda que o Syllabus é a expressão viva
da ambição pontifícia, da pretensão do Papa, querendo tudo avassalar à sua onipotência.
Diz-se, enfim, que o
Syllabus é a revolução nos Estados e no mundo, promovida pelo Papa, que antes
de tudo deveria buscar a paz, manter a boa harmonia com a humanidade cristã.
Monsenhor Gaume em poucas linhas vai lançar por terra esse amontoado de
calúnias e inverdades. Não podia mais habilmente confundir os acusadores do
Papa e os adversários do Syllabus, do que fazendo um como Catecismo, onde
procedendo por perguntas e respostas, põe patente a verdade; mostra, em uma
palavra, que o Syllabus condena erros monstruosos, e que o Papa tem a missão, o
direito e o dever de em lodo o tempo condenar o erro o proscreve-lo para sempre.
Vamos dar a
Introdução ao autor, que melhor fará o seu intento.
INTRODUÇÃO
Aos 20 do Abril de
1873 o S. Pontifice, respondendo aos romeiros de Montpellier, dizia-lhes: “Não basta professar o respeito à Santa Sé,
é necessário ainda praticar a obediência ao Syllabus,
e à infalibilidade”
A submissão, pois ao Syllubus é um dever de consciência para
todos os cristãos, sem exceção alguma.
Todos, por consequência,
devem conhecer o Syllabus, e conhece-lo
tão bem, que ele seja para cada qual, padres ou simples habitantes das cidades
ou dos campos, um oráculo invariável, e um guia sempre presente.
Assim o exige não
somente a obediência à Igreja, como também a necessidade de evitarmos as
ciladas que em nossos passos armam os inimigos, isto é, os erros que circulam
em torno de nós, numerosos quais átomos do ar, e tão contrários aos interesses
dos povos, como funestos à salvação das almas.
Todavia cumpre confessa-lo:
de todos os documentos providenciais emanados da Santa Sé Apostólica, nenhum
talvez haja que se conheça menos e que se compreenda ainda menos do quo o Syllabus. Muitos o conhecem apenas de
nome.
Objeto de indiferença
para o maior número, não lhes mereceu estudo sério. E como explicaremos àqueles
que, enganados por ruins jornais, o tratam de ato infeliz e intempestivo, e até
o apresentam como provocador de discórdias e ameaçador da sociedade!
Retificar estas falsas
ideias e para sempre mostrar a alta sabedoria do Santo Padre, que apesar de
suas privações, vela com uma solicitude continua pela felicidade de todos, tal é
o fim deste opúsculo, destinado a espargir a luz, máximo nas classes populares.
Segundo os desejos do imortal
Pontífice, já um Catecismo da Infalibilidade,
aprovado pela Santa Sé, foi publicado em Paris; desejamos fazer o mesmo a
respeito do SYllabus. Por este modo,
cada filho da Igreja, de qualquer condição que seja, terá um duplo facho para alumiar-lhe
os passos, e com segurança distinguir o caminho da verdade por entre as veredas
do erro, hoje numerosíssimas.
CAPÍTULO I
O Syllabus
P. Que é o Syllabus?
R. O Syllabus é o
complexo dos principais erros, espalhados hoje no mundo, e já condenados pela Igreja.
P. O Syllabus é
necessário?
R. Perguntar se é
necessário o Syllabus é perguntar se
ao viajante é necessário um guia fiel, sendo ele obrigado a transitar durante a
noite por uma floresta desconhecida e semeada de precipícios.
P. Que precipícios são
estes?
R. Estes precipícios
são os erros do gênero espalhados atualmente no mundo inteiro, e que constituem
um perigo permanente, não somente para a fé do cristão, como também para a conservação
da sociedade.
P. Que faz, pois, o
Syllabus?
R. Afim de que Iodos
possam facilmente conhecer estes diferentes erros e evitá-los, o Syllabus os reúne em algumas páginas, o
dá nova força ás condenações precedentes.
P. Como devemos
considerar o Syllabus?
R. Devemos considerar
o Syllabus: 1º como uma prova da solicitude com que o Santo Pontífice
vela sobre o mundo; 2º como a bussola do cristão e a carta das nações; por conseguinte, como
um grande benefício, porquanto traçando o caminho que devemos seguir, obsta a
que nos extraviemos e nos percamos.
CAPÍTULO II
A obediência ao Syllabus
P. Como é que devemos
obedecer ao Syllabus?
R. Devemoms obedecer
ao Syllabus, como devemos obedecer
aos ensinos do Sumo Pontífice o da igreja.
P. Qual devo ser esta obediência?
R. Esta obediência
deve ser uma obediência de espirito, de coração e de conduta.
P. Em que consiste a obediência do espírito?
R. A obediência de
espirito consiste em crer firmemente, e sem sofismas, tudo o que ensina o Syllabus, e condenar absolutamente ludo
o que ele condena, e no sentido em que o condena.
P. Em que consisto a
obediência do coração?
R. A obediência do
coração consiste em abraçar com gratidão todas as doutrinas do Syllabus.
P. E por que?
R. Porque o Syllabus nos põe de posse da verdade, que
é o maior de todos os bens.
P. Em que consiste a
obediência de conduta?
R. A obediência de
conduta consiste em conformarmos, em particular como em público, as nossas
palavras e ações com os ensinos do Syllabus.
CAPÍTULO III
Necessidade da obediência
ao Syllabus
P. É necessária a
tríplice obediência de que acabais de falar?
R. A tríplice
obediência de que falamos, é absolutamente necessária; de outro modo a submissão
puramente exterior seria nada mais do que culposa hipocrisia.
P. Quo juízo devemos
formar daqueles que, conhecendo o Syllabus, não lhe prestam obediência?
R. O juízo quo devemos
formar daqueles que, conhecendo o Syllabus,
não lhe prestam obediência, é que perdem a si e aos outros.
P. Que devemos pensar,
porém, dos que por ignorância, não obedecem ao Syllabus?
R. Devemos pensar dos
que, por ignorância não obedecem ao Syllabus, que se expõem a cometer pecados
mais ou menos graves, caindo em erros mais ou menos voluntários.
P. Que segue-se daí?
R. Segue-se que todos
devem conhecer o Syllabus, porque Iodos estão igualmente empenhados em conhecer
a verdade e serem preservados do erro.
P. A quem é mais
particularmente necessário este conhecimento?
R. Este conhecimento é
particularmente necessário àqueles que tem o encargo de instruir e governar os
outros.
P. Qual é o fim deste catecismo?
R. O fim deste catecismo
é fazer chegar a todas as classes da sociedade o conhecimento do Syllabus e as obrigações que nos impõe.
CAPITULO IV
Erros condenados pelo
Syllabus: o panteísmo, o naturalismo e o racionalismo absoluto.
P. Que contém o
Syllabus?
R. O Syllabus contém oitenta proposições, que se podem ligar
a dez capítulos diferentes, conforme a natureza dos erros condenados.
P. Quais são os
primeiros erros condenados pelo Syllabus?
R. Os primeiros erros condenados
pelo Syllabus são: o panteísmo, o
naturalismo, o racionalismo absoluto.
P. Que é o panteísmo?
R. O panteísmo é um
erro, que consiste em afirmar-se que tudo é Deus, o homem e o mundo, o espírito e a matéria.
P. Que é o naturalismo?
R. O naturalismo é um
erro que consiste em negar a necessidade da revelação, o sustentar que o homem,
só com as luzes da razão, pode chegar ao conhecimento de todas as verdades, e
só com as forças de sua natureza praticar todas as virtudes necessárias à salvação.
P. Que é o
racionalismo absoluto?
R. O racionalismo
absoluto é o sistema errôneo dos que pretendem, que a razão do homem é
independente de toda a autoridade dogmática, e que ela é a única guia e luz de
si mesma.
CAPITULO V
P. Como é que estes
três erros são expostos e condenados pelo Syllabus?
R. Estes três erros
são expostos e condenados pelo Syllabus
nas seguintes proposições:
1ª Além deste mundo
universo, não existe ente algum divino, superior a tudo, infinitamente sábio e
governando o mundo com admirável perfeição. Deus é a mesma cousa que a natureza
e sujeito a mudanças. Deus identifica-se realmente com o homem e o mundo; de sorte
que todas as cousas são Deus, têm a mesma substancia que Deus, e tanto é assim,
que Deus e o mundo são uma só e mesma cousa: o espírito e a matéria; a necessidade
e a liberdade; o verdadeiro e o falso; o bem e o mal; o justo e o injusto; uma
só e mesma cousa.
2ª Não há da parte de
Deus ação alguma sobre o homem e o mundo.
3ª A razão humana, sem
importar-se com Deus, é o único árbitro do verdadeiro e do falso, do bem e do
mal, não reconhece outra lei senão a si própria, e só com as suas forças naturais
basta para governar os particulares e os povos.
4ª Todas as verdades
da religião derivam da força da razão humana.
É assim que a razão é
a regra principal, pela qual o homem pode e deve adquirir o conhecimento de
todas as verdades, de qualquer gênero que sejam.
5ª A revelação divina é
imperfeita; eis porque está sujeita a um progresso continuo e indefinido, o
qual devo corresponder ao progresso da humana razão.
6ª A fé cristã repugna
à razão; e a revelação divina, não somente de nada serve, mas ainda é nociva à
perfeição do homem.
7ª As profecias e os
milagres contidos e narrados nas Santas Escrituras são puras invenções poéticas;
os mistérios da fé cristã um resumo das investigações dos filósofos. Os livros
do Velho e Novo Testamento contém invenções fabulosas, e o próprio Jesus Cristo
é um mito.
P. Que devemos pensar
do todos estes erros?
R. Devemos pensar de
todos estes erros o seguinte: que são um insulto à fé do gênero humano; a
degradação de Deus e do homem; a destruição radical da religião e da sociedade,
a total conflagração do mundo na mais estupenda confusão.
P. Que segue-se daí?
R. Segue-se daí que o Syllabus, que os condena, é um benefício,
de que devemos mostrar-nos muito gratos.
[continua...]
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