sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Pequeno Catecismo do Syllabus - Mons. Jean-Joseph Gaume (1802 – 1879)




Encetamos hoje a publicação de uma das obras populares do ilustre escritor MONSENHOR GAUME (1802 – 1879); tem por título “Pequeno Catecismo do Syllabus”. Esta pequena obra foi escrita para a instrução do povo, que ignorando os ensinos da Igreja acerca das verdades católicas, se deixa imbuir dos falsos preconceitos e sofisma dos ímpios.
Hoje o Syllabus é como um espantalho, de que se servem os inimigos da Igreja para afastar os homens da senda do bem, enganar os incautos e precipitá-los nos abismos. A publicação que faremos da obra de Monsenhor Gaume satisfaz a uma das grandes necessidades do nosso tempo: é mais uma eloquente resposta a essa parva impiedade que campeia por todos os lados.
Sempre se atacou o Syllabus; ainda hoje se diz e se propala com inimitável cinismo que esta obra de alta prudência e profundamente teológica, não passa de um grito de guerra da Cúria Romana contra o direito das nações, contra a autonomia dos impérios, contra as legitimas instituições dos povos. Diz-se ainda que o Syllabus é a expressão viva da ambição pontifícia, da pretensão do Papa, querendo tudo avassalar à sua onipotência.
Diz-se, enfim, que o Syllabus é a revolução nos Estados e no mundo, promovida pelo Papa, que antes de tudo deveria buscar a paz, manter a boa harmonia com a humanidade cristã. Monsenhor Gaume em poucas linhas vai lançar por terra esse amontoado de calúnias e inverdades. Não podia mais habilmente confundir os acusadores do Papa e os adversários do Syllabus, do que fazendo um como Catecismo, onde procedendo por perguntas e respostas, põe patente a verdade; mostra, em uma palavra, que o Syllabus condena erros monstruosos, e que o Papa tem a missão, o direito e o dever de em lodo o tempo condenar o erro o proscreve-lo para sempre.
Vamos dar a Introdução ao autor, que melhor fará o seu intento.

INTRODUÇÃO

Aos 20 do Abril de 1873 o S. Pontifice, respondendo aos romeiros de Montpellier, dizia-lhes: “Não basta professar o respeito à Santa Sé, é necessário ainda praticar a obediência ao Syllabus, e à infalibilidade”
A submissão, pois ao Syllubus é um dever de consciência para todos os cristãos, sem exceção alguma.
Todos, por consequência, devem conhecer o Syllabus, e conhece-lo tão bem, que ele seja para cada qual, padres ou simples habitantes das cidades ou dos campos, um oráculo invariável, e um guia sempre presente.
Assim o exige não somente a obediência à Igreja, como também a necessidade de evitarmos as ciladas que em nossos passos armam os inimigos, isto é, os erros que circulam em torno de nós, numerosos quais átomos do ar, e tão contrários aos interesses dos povos, como funestos à salvação das almas.
Todavia cumpre confessa-lo: de todos os documentos providenciais emanados da Santa Sé Apostólica, nenhum talvez haja que se conheça menos e que se compreenda ainda menos do quo o Syllabus. Muitos o conhecem apenas de nome.
Objeto de indiferença para o maior número, não lhes mereceu estudo sério. E como explicaremos àqueles que, enganados por ruins jornais, o tratam de ato infeliz e intempestivo, e até o apresentam como provocador de discórdias e ameaçador da sociedade!
Retificar estas falsas ideias e para sempre mostrar a alta sabedoria do Santo Padre, que apesar de suas privações, vela com uma solicitude continua pela felicidade de todos, tal é o fim deste opúsculo, destinado a espargir a luz, máximo nas classes populares.
Segundo os desejos do imortal Pontífice, já um Catecismo da Infalibilidade, aprovado pela Santa Sé, foi publicado em Paris; desejamos fazer o mesmo a respeito do SYllabus. Por este modo, cada filho da Igreja, de qualquer condição que seja, terá um duplo facho para alumiar-lhe os passos, e com segurança distinguir o caminho da verdade por entre as veredas do erro, hoje numerosíssimas.

CAPÍTULO I
O Syllabus

P. Que é o Syllabus?
R. O Syllabus é o complexo dos principais erros, espalhados hoje no mundo, e já condenados pela Igreja.

P. O Syllabus é necessário?
R. Perguntar se é necessário o Syllabus é perguntar se ao viajante é necessário um guia fiel, sendo ele obrigado a transitar durante a noite por uma floresta desconhecida e semeada de precipícios.

P. Que precipícios são estes?
R. Estes precipícios são os erros do gênero espalhados atualmente no mundo inteiro, e que constituem um perigo permanente, não somente para a fé do cristão, como também para a conservação da sociedade.

P. Que faz, pois, o Syllabus?
R. Afim de que Iodos possam facilmente conhecer estes diferentes erros e evitá-los, o Syllabus os reúne em algumas páginas, o dá nova força ás condenações precedentes.

P. Como devemos considerar o Syllabus?
R. Devemos considerar o Syllabus: 1º como uma prova da solicitude com que o Santo Pontífice vela sobre o mundo; 2º como a bussola do cristão e a carta das nações; por conseguinte, como um grande benefício, porquanto traçando o caminho que devemos seguir, obsta a que nos extraviemos e nos percamos.


CAPÍTULO II
A obediência ao Syllabus

P. Como é que devemos obedecer ao Syllabus?
R. Devemoms obedecer ao Syllabus, como devemos obedecer aos ensinos do Sumo Pontífice o da igreja.

P. Qual devo ser esta obediência?
R. Esta obediência deve ser uma obediência de espirito, de coração e de conduta.

P. Em que consiste a obediência do espírito?
R. A obediência de espirito consiste em crer firmemente, e sem sofismas, tudo o que ensina o Syllabus, e condenar absolutamente ludo o que ele condena, e no sentido em que o condena.

P. Em que consisto a obediência do coração?
R. A obediência do coração consiste em abraçar com gratidão todas as doutrinas do Syllabus.

P. E por que?
R. Porque o Syllabus nos põe de posse da verdade, que é o maior de todos os bens.

P. Em que consiste a obediência de conduta?
R. A obediência de conduta consiste em conformarmos, em particular como em público, as nossas palavras e ações com os ensinos do Syllabus.


CAPÍTULO III
Necessidade da obediência ao Syllabus

P. É necessária a tríplice obediência de que acabais de falar?
R. A tríplice obediência de que falamos, é absolutamente necessária; de outro modo a submissão puramente exterior seria nada mais do que culposa hipocrisia.

P. Quo juízo devemos formar daqueles que, conhecendo o Syllabus, não lhe prestam obediência?
R. O juízo quo devemos formar daqueles que, conhecendo o Syllabus, não lhe prestam obediência, é que perdem a si e aos outros.

P. Que devemos pensar, porém, dos que por ignorância, não obedecem ao Syllabus?
R. Devemos pensar dos que, por ignorância não obedecem ao Syllabus, que se expõem a cometer pecados mais ou menos graves, caindo em erros mais ou menos voluntários.

P. Que segue-se daí?
R. Segue-se que todos devem conhecer o Syllabus, porque Iodos estão igualmente empenhados em conhecer a verdade e serem preservados do erro.

P. A quem é mais particularmente necessário este conhecimento?
R. Este conhecimento é particularmente necessário àqueles que tem o encargo de instruir e governar os outros.

P. Qual é o fim deste catecismo?
R. O fim deste catecismo é fazer chegar a todas as classes da sociedade o conhecimento do Syllabus e as obrigações que nos impõe.


CAPITULO IV
Erros condenados pelo Syllabus: o panteísmo, o naturalismo e o racionalismo absoluto.

P. Que contém o Syllabus?
R. O Syllabus contém oitenta proposições, que se podem ligar a dez capítulos diferentes, conforme a natureza dos erros condenados.

P. Quais são os primeiros erros condenados pelo Syllabus?
R. Os primeiros erros condenados pelo Syllabus são: o panteísmo, o naturalismo, o racionalismo absoluto.

P. Que é o panteísmo?
R. O panteísmo é um erro, que consiste em afirmar-se que tudo é Deus, o homem e o  mundo, o espírito e a matéria.

P. Que é o naturalismo?
R. O naturalismo é um erro que consiste em negar a necessidade da revelação, o sustentar que o homem, só com as luzes da razão, pode chegar ao conhecimento de todas as verdades, e só com as forças de sua natureza praticar todas as virtudes necessárias à salvação.

P. Que é o racionalismo absoluto?
R. O racionalismo absoluto é o sistema errôneo dos que pretendem, que a razão do homem é independente de toda a autoridade dogmática, e que ela é a única guia e luz de si mesma.


CAPITULO V

P. Como é que estes três erros são expostos e condenados pelo Syllabus?
R. Estes três erros são expostos e condenados pelo Syllabus nas seguintes proposições:
1ª Além deste mundo universo, não existe ente algum divino, superior a tudo, infinitamente sábio e governando o mundo com admirável perfeição. Deus é a mesma cousa que a natureza e sujeito a mudanças. Deus identifica-se realmente com o homem e o mundo; de sorte que todas as cousas são Deus, têm a mesma substancia que Deus, e tanto é assim, que Deus e o mundo são uma só e mesma cousa: o espírito e a matéria; a necessidade e a liberdade; o verdadeiro e o falso; o bem e o mal; o justo e o injusto; uma só e mesma cousa.

2ª Não há da parte de Deus ação alguma sobre o homem e o mundo.

3ª A razão humana, sem importar-se com Deus, é o único árbitro do verdadeiro e do falso, do bem e do mal, não reconhece outra lei senão a si própria, e só com as suas forças naturais basta para governar os particulares e os povos.

4ª Todas as verdades da religião derivam da força da razão humana.
É assim que a razão é a regra principal, pela qual o homem pode e deve adquirir o conhecimento de todas as verdades, de qualquer gênero que sejam.

5ª A revelação divina é imperfeita; eis porque está sujeita a um progresso continuo e indefinido, o qual devo corresponder ao progresso da humana razão.
6ª A fé cristã repugna à razão; e a revelação divina, não somente de nada serve, mas ainda é nociva à perfeição do homem.
7ª As profecias e os milagres contidos e narrados nas Santas Escrituras são puras invenções poéticas; os mistérios da fé cristã um resumo das investigações dos filósofos. Os livros do Velho e Novo Testamento contém invenções fabulosas, e o próprio Jesus Cristo é um mito.

P. Que devemos pensar do todos estes erros?
R. Devemos pensar de todos estes erros o seguinte: que são um insulto à fé do gênero humano; a degradação de Deus e do homem; a destruição radical da religião e da sociedade, a total conflagração do mundo na mais estupenda confusão.

P. Que segue-se daí?
R. Segue-se daí que o Syllabus, que os condena, é um benefício, de que devemos mostrar-nos muito gratos.

[continua...]




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