quinta-feira, 20 de agosto de 2020

A festa das rosas (Sra. Emília Augusta Gomide Penido )


19 de julho de 1877
Pela Sra. Emília Augusta Gomide Penido  (1840 – 1886)*

Esforça-se a mãe carinhosa para plantar no coração de seu filho o amor da virtude, e fatiga-se o pastor, para cultivar essa flor mimosa, que produz frutos de bênçãos para a terra, e de glória para os céus.
Trabalham ambos com afinco; porque sabem que a virtude é a guarida que inutiliza a força do mal; a estrela que resplandece ente as trevas da vida; e a toga que ao homem transforma em anjo.
Para ornar a alma do ente querido com tão preciosas galas, emprega o pastor conselhos, suplicas e exemplos, e excogita diversos meios mais ou menos eficazes, e todos edificativos.
Teve S. Medardo, Bispo de Noyon, a mais engenhosa ideia para conseguir esses ardentes desejos, e para que fosse por todos amada e praticada a lei de Cristo, instituiu em sua diocese a festa das rosas, que consistia em premiar-se a mais piedosa donzela da região.
Entre três jovens escolhia o governador, aquela que a opinião geral indicava com a mais digna. Um mês antes da festa, publicava-se nas principais igrejas o seu nome, para no caso de haver injustiça, ser esta reparada a tempo.
A 8 de junho, vestida de branco, com os cabelos flutuantes, adornada com uma larga fita azul, a tiracolo, ia a donzela, seguida por sua família, e pelas mais distintas jovens, agradecer ao Governador a honra que lhe conferira.
Recebida ao som da música, dirigia-se acompanhada por numeroso cortejo ao templo sagrado, para cantar as vésperas. Em procissão encaminhavam-se todos para a capela do santo Fundador, onde depois de um sermão análogo ao ato, o ministro do Senhor abençoava a coroa, e cingia a fronte da venturosa virgem
Assim ornada, era conduzida pelo Governador a Igreja da Paróquia, onde se cantava o Te Deum e outros hinos; seguindo depois para uma praça, ali oferecia-se a roseira, em homenagem ao seu mérito, avultada soma, e diversos objetos simbólicos; cerimonias estas, que deviam ser religiosamente observadas.
Concluía-se a festa com inocentes folguedos, sendo a roseira o objeto de geral estima e consideração.
Para se conseguir o prêmio era preciso não só a jovem ter uma vida irrepreensível, como também os seus parentes serem de exemplar virtude; a mais ligeira nodoa inabilitava para tão subida honra.
Esta instituição produziu admiráveis efeitos, não havia em toda região um só crime, nem mesmo faltas grosseiras, enquanto as povoações vizinhas eram em extremo viciosas.
Em uma capela em Salency, vê-se ainda um quadro representando o santo coroando a sua irmã, que era reconhecida por todos, como a mais virtuosa donzela da diocese.
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*Extraído do “Almanach Brazileiro Illustrado”, 1877, p. 343-344.


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