Grande número de Senhoras católicas da corte do império, enviaram
uma mensagem ao Sumo Pontífice, protestando a fidelidade delas à Igreja e sua
adesão à causa dos Bispos presos, às quais dignou-se Sua Santidade o Papa Pio
IX responder com uma carta magnífica que se tentou também suprimir e com dificuldade
chegou ao seu destino. O Sr. Bispo do Rio de Janeiro, sem dúvida por motivos
muito graves, opôs-se formalmente à entrega desta Carta.
Neste documento importante procura ainda uma vez o
augusto Pontífice confundir os dois erros escandalosos que propalava-se no Brasil,
sobretudo depois da carta do Cardeal Antonelli, a saber: que a maçonaria brasileira
era pouco mais ou menos inofensiva, muito diferente da maçonaria dos outros países;
e por isso tratada com benevolência por Pio IX; e que os Bispos de Olinda e do
Pará, então presos, expiavam sua imprudência de haver inquietado e mandado eliminar
das confrarias os maçons e por isso tinham sido repreendidos e condenados pelo
Santo Padre, pois com seu procedimento perturbavam tudo, e expunham a um desastre
a Igreja brasileira.
A carta em que as Senhoras fluminenses protestam aderir à
causa dos dois Bispos presos, e condenar como eles o maçonismo, responde Pio
IX, alegrando-se não só por não se terem elas deixado seduzir pelas falsidades que
se propagavam de ser ele favorável à maçonaria do Brasil, mas também por aderirem
especialmente aos Bispos e Sacerdotes que, fieis à doutrina constante da Sé
Romana, execravam esta seita. A adesão aos Bispos presos é para o Santo Padre
um sinal evidente de serem elas Filhas da Igreja, firmadas unicamente nas
doutrinas da Cadeira da Verdade.
Pode haver uma aprovação mais cabal do procedimento dos
dois Prelados, quando a adesão à causa deles é, aos olhos do Papa, o sinal, o
critério evidente do verdadeiro Catolicismo?
Mas ouçamos a voz do
Pastor Supremo:
Amadas Filhas em Cristo,
Saúde e Benção Apostólica.
Quando mais imprudentemente
se enfurece o maçonismo nessas regiões, Amadas Filhas em Cristo, e caluniosamente
propala que, sendo ele totalmente distinto da seita condenada, de nenhum modo é
reprovado por Nós, e que antes pelo contrário lhe somos favorável, tanto mais
Nos alegramos vendo que não só vós não vos deixais seduzir p0r esses seus ardis,
como ainda, crescendo o perigo, com mais firmeza aderis ESPECIALMENTE àqueles
Bispos e sacerdotes que, segundo a constante doutrina da Santa Sé e as advertências
de Nossas Cartas, execram o maçonismo no Brasil do mesmo modo que em outros países
do orbe. Assim como vemos nisto um sinal evidente de Filhas da Igreja, que,
firmadas unicamente nas doutrinas desta Cátedra de verdade, não se deixam
agitar pelo vento de estranhas doutrinas, assim também julgamos consentânea com
a vossa fé e caridade essa obediência e esse amor que confessais ter para conosco,
esse zelo com que por meio de perseverantes orações e boas obras vos esforçais
por tornar propicia a misericórdia divina em nosso favor e em favor da Igreja,
essa piedade pela qual, como membros que sois do Corpo místico de Jesus Cristo,
vos fazeis participantes das injurias e dores que são irrogadas à Cabeça visível
do mesmo Corpo.
Tudo isto, na verdade, Nos
é sumamente agradável; mas desejamos que vos não abaleis de modo algum com o triunfo
que a iniquidade parece conseguir, nem padeçais escândalo, vendo a humilhação
da Igreja.
Deve ela, com efeito, ser formada à
imagem do seu divino Esposo, e assim como este por sua paixão e cruz venceu o
mundo e lançou fora o seu príncipe, assim se difundiu ela por toda a parte por
meio de trabalhos e opressões, e um dia enfim sujeitará a si todas as cousas,
de modo que todo o orbe se constitua num só rebanho debaixo da direção de um só
Pastor. Persisti, pois, fortes no vosso proposito, e por vossas orações, boas
obras e exemplos apressai, cheias de confiança, o feliz termo da presente
guerra, o qual não pode deixar de aparecer.
Para este fim pedimos
ao Céu vos conceda a graça e as forças que vos são necessárias; e no entretanto
como augúrio dos favores celestiais e penhor de nossa paternal benevolência, a
todas vós, Amadas Filhas em Cristo, mui amorosamente vos lançamos a Benção Apostólica.
Dado em Roma junto a
S. Pedro, no dia 29 de Novembro de 1875,
ano trigésimo de Nosso Pontificado.
Pio IX Papa.
***
Extraído
do livro A Questão Religiosa do Brasil
perante a Santa Sé, ou, a Missão especial a Roma em 1876 à luz de documentos
publicados e inéditos pelo Bispo do Pará, Lallemant Frères, Imp. Lisboa,
1886, p. 256-257.
Obs.: O
Breve acima transcrito foi igualmente publicado no jornal O Apóstolo, em 9 de
janeiro de 1876]
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