sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Breve do Santo Padre Pio IX às senhoras do Rio de Janeiro (29.11.1875)


Grande número de Senhoras católicas da corte do império, enviaram uma mensagem ao Sumo Pontífice, protestando a fidelidade delas à Igreja e sua adesão à causa dos Bispos presos, às quais dignou-se Sua Santidade o Papa Pio IX responder com uma carta magnífica que se tentou também suprimir e com dificuldade chegou ao seu destino. O Sr. Bispo do Rio de Janeiro, sem dúvida por motivos muito graves, opôs-se formalmente à entrega desta Carta.
Neste documento importante procura ainda uma vez o augusto Pontífice confundir os dois erros escandalosos que propalava-se no Brasil, sobretudo depois da carta do Cardeal Antonelli, a saber: que a maçonaria brasileira era pouco mais ou menos inofensiva, muito diferente da maçonaria dos outros países; e por isso tratada com benevolência por Pio IX; e que os Bispos de Olinda e do Pará, então presos, expiavam sua imprudência de haver inquietado e mandado eliminar das confrarias os maçons e por isso tinham sido repreendidos e condenados pelo Santo Padre, pois com seu procedimento perturbavam tudo, e expunham a um desastre a Igreja brasileira.
A carta em que as Senhoras fluminenses protestam aderir à causa dos dois Bispos presos, e condenar como eles o maçonismo, responde Pio IX, alegrando-se não só por não se terem elas deixado seduzir pelas falsidades que se propagavam de ser ele favorável à maçonaria do Brasil, mas também por aderirem especialmente aos Bispos e Sacerdotes que, fieis à doutrina constante da Sé Romana, execravam esta seita. A adesão aos Bispos presos é para o Santo Padre um sinal evidente de serem elas Filhas da Igreja, firmadas unicamente nas doutrinas da Cadeira da Verdade.
Pode haver uma aprovação mais cabal do procedimento dos dois Prelados, quando a adesão à causa deles é, aos olhos do Papa, o sinal, o critério evidente do verdadeiro Catolicismo?
Mas ouçamos a voz do Pastor Supremo:

Amadas Filhas em Cristo, Saúde e Benção Apostólica.
Quando mais imprudentemente se enfurece o maçonismo nessas regiões, Amadas Filhas em Cristo, e caluniosamente propala que, sendo ele totalmente distinto da seita condenada, de nenhum modo é reprovado por Nós, e que antes pelo contrário lhe somos favorável, tanto mais Nos alegramos vendo que não só vós não vos deixais seduzir p0r esses seus ardis, como ainda, crescendo o perigo, com mais firmeza aderis ESPECIALMENTE àqueles Bispos e sacerdotes que, segundo a constante doutrina da Santa Sé e as advertências de Nossas Cartas, execram o maçonismo no Brasil do mesmo modo que em outros países do orbe. Assim como vemos nisto um sinal evidente de Filhas da Igreja, que, firmadas unicamente nas doutrinas desta Cátedra de verdade, não se deixam agitar pelo vento de estranhas doutrinas, assim também julgamos consentânea com a vossa fé e caridade essa obediência e esse amor que confessais ter para conosco, esse zelo com que por meio de perseverantes orações e boas obras vos esforçais por tornar propicia a misericórdia divina em nosso favor e em favor da Igreja, essa piedade pela qual, como membros que sois do Corpo místico de Jesus Cristo, vos fazeis participantes das injurias e dores que são irrogadas à Cabeça visível do mesmo Corpo.
Tudo isto, na verdade, Nos é sumamente agradável; mas desejamos que vos não abaleis de modo algum com o triunfo que a iniquidade parece conseguir, nem padeçais escândalo, vendo a humilhação da Igreja. Deve ela, com efeito, ser formada à imagem do seu divino Esposo, e assim como este por sua paixão e cruz venceu o mundo e lançou fora o seu príncipe, assim se difundiu ela por toda a parte por meio de trabalhos e opressões, e um dia enfim sujeitará a si todas as cousas, de modo que todo o orbe se constitua num só rebanho debaixo da direção de um só Pastor. Persisti, pois, fortes no vosso proposito, e por vossas orações, boas obras e exemplos apressai, cheias de confiança, o feliz termo da presente guerra, o qual não pode deixar de aparecer.
Para este fim pedimos ao Céu vos conceda a graça e as forças que vos são necessárias; e no entretanto como augúrio dos favores celestiais e penhor de nossa paternal benevolência, a todas vós, Amadas Filhas em Cristo, mui amorosamente vos lançamos a Benção Apostólica.
Dado em Roma junto a S. Pedro, no dia 29 de Novembro de 1875, ano trigésimo de Nosso Pontificado.

Pio IX Papa.
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Obs.: O Breve acima transcrito foi igualmente publicado no jornal O Apóstolo, em 9 de janeiro de 1876]

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