“Atualmente
observamos sacerdotes e guardiões do Templo santo unirem-se à turba dos
incendiários da Cidade e dedicarem-se de forma desenfreada à demolição do
patrimônio sagrado que eles receberam como depósito, como função. E assim os
vemos hoje empenhados em ‘desmistificar’
a fé, em ‘dessacralizar’ o culto além
de outras iniciativas contraditórias, ao mesmo tempo em que definem a religião
e a Igreja como ‘um serviço à Humanidade’. A promoção de uma vaga fraternidade humana, da
paz, do desenvolvimento econômico, do bem-estar social e da igualdade são os objetivos explícitos de uma
religião apenas de nome e de modo vergonhoso. A imagem ideal do monge macilento e ascético foi
substituída pela do clérigo ‘eficaz’ e ativo... Mas, se a primazia da
ação encerra a Cidade humana em um círculo sem saída, em cujo centro sorri o
Diabo do Fausto, quando essa mesma primazia é aplicada ao Templo o efeito é
ainda maior: se o esvazia de sua própria
substancia e realidade.
O
Templo já não é lugar de contemplação senão de ruído e de subversão, simplesmente
porque já não é templo. Assim como a chamada sociedade de consumo e do
transporte fácil cria uma atmosfera irrespirável, assim a corrupção do Templo torna
impossível a oração pessoal, que é como a respiração da alma. A
ruína total e definitiva da antiga Roma se resumiu sempre ‘na entrada dos
bárbaros no Capitólio’, quer dizer, no templo supremo da Urbe. Nossa
civilização não perece em virtude da ação de bárbaros e estrangeiros, senão que produz ou destila de si mesma os seus
próprios bárbaros. Em nossos dias ocorre a invasão desses bárbaros
imanentes no Capitólio ou santuário de nossa Cidade, que é a Igreja Católica.
Por isso não se trata de uma destruição exterior, a sangue e fogo, senão de uma
autodemolição obstinada,
silenciosa”.
***
Rafael Gambra Ciudad. Sentido cristiano de la accion, Revista
Verbo, ns. 119-120, 1973, pp. 961-962.
Rafael Gambra Ciudad (1920-2004)
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