Não é só o colossal jequitibá, o gigante das nossas
florestas; não é só a frondosa figueira, a soberana das nossas selvas; não é só
a perfumada flor dos nossos vergéis; não é só o canto melodioso do sabiá, nas
horas melancólicas do crepúsculo; não é só o clangor metálico da araponga; não
é só o ribombar das cachoeiras que se despenham frementes: não será somente
isso que nos torna querida esta nossa bem-fadada Terra da Santa Cruz.
Para quanto, nossa história pátria possui algo de mais
encantador.
São os vultos históricos que se esmeraram enquanto tinham
para erguer e cimentar o magnífico edifício da Pátria, tornando-a respeitada no
convício dos povos.
Um destes personagens proeminentes que cimentaram os
alicerces da Pátria foi, sem dúvida, o venerável Padre José de Anchieta.
Afirmava o abalizado escritor Theodoro Sampaio:
- “O Padre José de
Anchieta foi um dos homens mais eminentes que colaboraram na fundação da nossa
querida Pátria, não só procurando reduzir pela religião e civilização os
indígenas ao preceito do bem e do justo, como derramando instrução entre
europeus e americanos.
“Seu máximo empenho
era a educação dessas crianças que os pais incultos lhe entregavam.
“Ao ensino das
artes, ao rudimento das letras, fazia-lhes seguir a prática dos atos religiosos.
“Não compreendia o
saber sem os exercícios de piedade que fortificam e elevam o coração. Para
isso, as festas se multiplicavam singelas, santas. Pela tarde, eis, o padre
Anchieta à frente de um bando de crianças, empunhando a cruz, correndo as ruas,
entoando cânticos sagrados.
“Ei-los que passam,
esses filhos das selvas, na sua marcha triunfal, através da aldeia que corre,
em peso, para saudá-los. Aqui, grupos alegres que tomam por atalhos na sôfrega
intenção de revê-los. Além, mulheres que voltam da fonte. Homens robustos que
regressam à casa. Velhos que assomam às portas da cabana. Todos se detêm. Todos acodem para ver a
pequena legião, onde cada qual distingue alguns dos seus.
“Vendo-os passar,
essa corte de neófitos que se recolhe cantando, quem não diria, se pudesse ler
no provir, como hoje lemos, neste passado distante:
- Ali vai a salvação da raça da América. Ali vai a grande da
Pátria, a bandeira do futuro!...”
As crianças assim ensinadas por Anchieta, tornavam-se
apóstolos em casa de seus pais.
Não contente com a catequização das crianças, Anchieta
corria as aldeias. Visitava cabanas isoladas. Embarcava-se pela fria madrugada
em frágil canoa. Penetrava na selva e conseguia o arrependimento dos criminosos
foragidos.
Se à beira do caminho surpreendia a inocência nas anciãs
da morte, a fé de Anchieta não tolerava que uma alma se perdesse por falta de
recurso não suprida. O lenço, embebido no orvalho matutino, como as gotas
colhidas entre as folhas das bromélias cor de ouro, davam-lhe água para a
remissão pelo batismo.
De José de Anchieta canta, por isso, inspirado vate:
“O índio bravo, o tamoio tão ativo,
Humilde tuas ordens respeitava,
Seguia teu exemplo!...
Toda a turba corria ao rude templo
Para ouvir teu verbo que ateava
Da fé o fogo vivo!...”
De sua vida apostólica, desta vida de sacrifícios
incontáveis, verdadeira epopeia do Evangelho, vitória palpável do espírito
sobre a natureza, o venerável padre Anchieta dedicou quarenta longos anos a bem
da Pátria e da Religião.
Na confusão da hora presente em que, surda e abertamente,
se trama contra a estabilidade da Pátria e da Religião, é altamente consolador
relembrar o vulto do venerável Anchieta que, a golpes de sacrifícios inauditos,
procurou cimentar o edifício da Pátria e da Religião. No momento tenebroso em
que vivemos; neste instante ameaçador em que, de um lado, se desfralda a
bandeira Cristo e a Igreja e, de outro lado, a sinistra bandeira Satanás e
Moscou, é sumamente necessário recordar os vultos proeminentes da nossa
história que, abnegadamente, deram o melhor de suas energias para alicerçar os
fundamentos da nossa Pátria e da nossa Religião. A hora reclama atitudes
claras, definidas, corajosas. Brasil ou Moscou! Cristo e a Igreja ou senão
Satanás e o comunismo arrasados! O dilema é inexorável! Não há por onde fugir!
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FREI Benvindo Destéfani
O.F.M. Cimentando o edifício da Pátria (14 de
novembro de 1937).
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