É preciso refletir
sobre o “evangelho ambíguo” e sobre os cristãos iludidos que são – ao mesmo
tempo – fiéis e vítimas dele. Eles fizeram o Evangelho cair de sua altitude
sobrenatural para achatá-lo ao nível das aspirações impuras do homem carnal. Sabem
que o Evangelho é místico e que transcende as sociedades humanas, mas, não
aceitando plenamente que essa mística faça cumprir a lei natural, eles chegam a
pregar o Evangelho contra o direito natural, a excomungar em nome do Evangelho
os humildes sustentadores da constituição natural das sociedades. Eles sabem
que os ministros de Cristo são, por estado, os servidores dos seus irmãos em
vista do Reino dos Céus, mas, não aceitando plenamente que tal serviço seja de
um cristão constituído em dignidade, chegam a reclamar uma Igreja pobre que
extingue a dignidade de seus ministros. Se eles pudessem, fabricariam uma
pseudo-Igreja, trabalhando para promover o que eles chamam uma “Igreja-pobre”,
vazia de seus poderes hierárquicos, imaginando que ela seria assim mais viva na
fé e amor.
Tais falsos apóstolos
nos atingem nas regiões místicas da alma, sem contradizer o que ali se esconde
de muito humano, nos fazem crer que tudo em nós pode ser igualmente satisfeito
pelo Evangelho, ao mesmo tempo o espírito serviçal e a covardia em levar a própria
dignidade; o amor da justiça...
mas também o ressentimento; o zelo da alma e também o consentimento ao
mundo. Os desgastes para o povo cristão são incalculáveis: nada é tão
devastador para o cristão como a graça, não digo renegada e pisada, mas
corrompida.
A Revolução não pode
ter melhores auxiliares no interior da Igreja de Cristo – e mesmo no mundo em
geral – que os apóstolos desviados, e tantos cristãos iludidos que se alinharam
atrás deles.
***
Pe. Roger-Thomas Calmel O.P. (1914-1975). In
“Itineraires” n. 106.
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* Père
Calmel, filho de São Domingos, ardente entusiasta do santo Rosário e da devoção
à Virgem Santíssima, opôs-se intrepidamente às “inovações” conciliares. Afirmou que “desde Paulo VI, não há mais uma Igreja, mas
duas”, e alertou sobre a “penetração
invisível” da maçonaria no interior da Igreja.
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