sábado, 16 de maio de 2020

Levantem-se e trovejem contra a mentira e o erro...


As linhas abaixo representam a voz de um autêntico Pastor que se levanta intimorata, altiva, em tudo diferente dos discursos tíbios e pouco claros dos Bispos de nossos dias, nos quais o erro não é combatido e, por consequência, a verdade não é proclamada. Por outro lado, é a mesma altivez, a mesma combatividade que observamos em um Mons. Lefebvre, em um d. Antônio de Castro Mayer e em um Pe. Calmel.

***
Avante, pois, mocidade, não recueis um só passo – avante seminaristas.
- E nós colegas no Presbiterado – nós também, demos desenvolvimentos às nossas ideias, inspiremo-nos e afaçamo-nos às lutas tão necessárias nestes últimos tempos em que a impiedade disfarçada, lobo com formosa pele de cordeiro, se avança no meio de aplausos e repetidos vivas dos quatro ventos, pela estrada larga da perdição, combatendo os fortes, ilaqueando os fracos, e semeando entre todos a semente pestilenta da perturbação e da descrença, do ódio e da cobiça. Oh! Sim, fortaleçamo-nos e levantemo-nos todos contra esta filosofia ímpia, que teve origem na Alemanha, e se acha enraizada em quase todos os países do mundo.
Quando as tempestades se levantam e as ondas se empolam, os marinheiros não dormem, nem esperam pelo brado de alerta do timoneiro.
E pois, nós que assumimos o mais sublime estado de todos os estados, esse a que um luseiro da Igreja chama o mais augusto em seu princípio, o mais nobre em seu exercício, e o mais santo em seus fins. Nós diretores do barco, nós a quem Deus santificou e mandou ao mundo, nós herdeiros daqueles a quem Jesus enviou como cordeirinhos no meio dos Lobos (S. M. Cap. 10, V. 15) não devemos ficar estacionários ante a perspectiva aterradora, que se nos apresenta.
Estejamos pois de atalaia... Armeno-nos contra todas as invasões dos poderes destruidores, contra todas as doutrinas dos modernos Voltaires.
Não durma um filho quando aflita e consternada geme a sua mãe, porque isto sobre ser uma vergonha, é um crime horripilante! Consentir um sacerdote que a falta de zelo e de cultura pereça a vinha do Senhor é uma hediondez! Ora pois, meus colegas, não nos deitemos a dormir, para não sermos o filho da maldição; nem nos conservemos em criminoso ócio para não definhar a vinha do Senhor.
Nós somos o sal da terra, mas, pergunta o Apóstolo, se o sal se desvanecer, com que se salgará?
Se o sal se desvanecer... ai de nós! Senhores! Não haverá nada em derredor que não seja corrupção se o sal se desvanecer... Meu Deus! Nem pensar.
Houve um tempo, senhores, em que o sacerdote brasileiro dormiu, e esse tempo criou a situação dificílima em que nos achamos. O joio tomou o lugar do trigo, a indiferença substituiu o fervor, e a morte pôs-se em lugar da vida.
Senhores, é preciso reagir mui seriamente contra este estado – comecemos desde já.
Os seminaristas sejam os pontos de apoio para a reação. Os Bispos já se tem levantado, levantem-se também todos os seminaristas. Levantem-se e trovejem contra a mentira e o erro, porque mentira e erro não resistem às armas invencíveis da verdade.
A luz brilha no meio das trevas. Que esperança! Cada um de nós seja um luseiro brilhante.
Quem não puder subir à tribuna, sentem-se no confessionário, quem não puder edificar com a palavra edifique com o exemplo. Cada um tome o seu lugar; e se for preciso derramar nosso sangue, façamo-lo, novos mártires, jorrar de nossas veias.
Soframos tudo; mas militemos sempre nas fileiras de Cristo.
Encarreguemo-nos da cultura da vinha (por Deus!), não consintamos que ela morra ou descresça a nossas vistas!
Unamo-nos e trabalhemos.
União e trabalho... eis tudo.
A terra terá bênçãos para os trabalhadores das vinhas que perseveram.
No céu ocuparemos a cadeira do justo; e Deus estará conosco em toda parte; não somos nós que dissemos, Jesus Cristo o prometeu solenemente.
Sigamos a Jesus Cristo, ele é o caminho, a verdade e a vida, via veritas et vita.
Dixi.
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Seminário episcopal do Ceará, 24 de março de 1867.

Rvm. Sr. Bispo D. Luiz Antonio dos Santos (1817-1891).
Indicado para o Bispado do Ceará, por Decreto Imperial de 31 de janeiro de 1859 e confirmado por Pio IX em 28 de setembro de 1860, sagrado aos 14 de abril de 1861.

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