“Se a palavra muda, e
não é sinônima, naturalmente também o conceito se modifica. Estão no caso os
novos termos dos teólogos “aggiornati”, cuja conseqüência é um abalo na própria
Fé. Eis que a nova terminologia, de fato, introduz uma nova religião. Não
estamos mais no Cristianismo autêntico. Aliás, as inovações não ficam apenas em
troca de palavras. Vão mais longe. Na realidade, excitam uma subversão total na
Igreja. Como a filosofia moderna sobreestima o homem, a quem faz juiz de todas
as coisas, a nova Igreja estabelece, como dissemos, a religião do homem.
Elimina tudo quanto possa significar uma imposição à liberdade ou uma repressão
à espontaneidade humanas. Desconhece, assim, a queda original e extenua a noção
do pecado”. (p. 18)
“(...) o antídoto a
tão profunda crise de linguagem, pensamento e ação, só encontramos na
fidelidade à tradição”. (p. 18)
“(...) tal é o valor
da Tradição, que mesmo as Encíclicas e outros Documentos do Magistério
ordinário do Sumo Pontífice, só são infalíveis nos ensinamentos corroborados
pela Tradição, ou seja, por uma doutrinação contínua, através de vários Papas e
por largo espaço de tempo. De maneira que, o ato do Magistério ordinário de um
Papa que colida com o ensinamento caucionado pela Tradição magisterial de
vários Papas e por espaço notável de tempo, não deveria ser aceito”. (p. 19)
“Guardemos,
pois, com o máximo respeito e atenção, o critério de aferimento para as
novidades que surgem na Igreja:
-
Ajustam-se elas à Tradição? – São de boa lei.
- Não
se ajustam, opõem-se à Tradição, ou a diluem? – Não devem ser aceitas.
Tradição, é certo,
não é imobilismo. É crescimento, porém, na mesma linha, na mesma direção, no
mesmo sentido, crescimento dos seres vivos que se conservam sempre os mesmos.
Por isso mesmo, não se podem considerar tradicionais, formas e costumes que a
Igreja não incorporou na exposição de sua doutrina, ou na sua disciplina. A
tendência, nesse sentido, foi chamada por Pio XII “reprovável arqueologismo”
(Encíclica “Mediator Dei”). Isto posto, tomemos como norma o seguinte
princípio: quando é visível que a novidade se afasta da doutrina tradicional, é
certo que ela não deve ser admitida”. (p. 21)
Na atual crise da
Igreja, podemos dizer que nossa salvação está condicionada ao emprego de todos
os meios que preservem a integridade da nossa Fé. Portanto, é necessária, hoje,
maior atenção para evitar as ciladas armadas contra a autenticidade de nosso
Cristianismo. (p. 22)
Podemos dizer que a
Igreja jamais Se achou em crise tão grave e tão radical, como a que hoje alui
seus fundamentos desde os seus primeiros alicerces. É sinal de que a proteção
de Maria Santíssima se torna mais necessária. A nós compete fazê-la real
mediante nossas súplicas à Santa Mãe de Deus. Nesse sentido, renovamos a
exortação que fizemos à reza cotidiana do terço do santo Rosário, cuja valia
aumentaremos com a imitação das virtudes de que a Virgem Mãe nos dá particular
exemplo: a modéstia, o recato, a pureza, a humildade, o espírito de
mortificação na renúncia de nós mesmos...
Confiamos que a proteção da
Santa Mãe de Deus nos conservará a fidelidade à Tradição na nossa profissão de
fé e nas nossas práticas religiosas, como nos hábitos de nossa vida católica.
(p. 25)
D.
Antônio de Castro Mayer. Carta Pastoral
“Aggiornamento” e Tradição (11.4.1971).
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